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Colunista fala da possibilidade de paciente ter acesso ao que há de mais avançado na ciência

Há precisamente um ano, em um 9 de março como hoje, os médicos da Santa Casa extirparam meu rim esquerdo, tomado que estava por um tumor maligno. Dias depois, saía do hospital sem o rim, mas repleto de ilusões. Como estava enganado a respeito de tudo, como era ignorante acerca do que acontecera e aconteceria comigo.

Minha maior decepção foi descobrir que, a despeito de todo o desenvolvimento da medicina moderna, não existe controle absoluto sobre o câncer. Alguns podem se curar, alguns podem morrer em semanas, alguns podem conviver pacificamente por anos com a doença, alguns podem sofrer muito por sua causa. É impossível saber ao certo.

Mas os médicos lutam. Isso testemunhei. Os médicos lutam. Há cientistas que consomem dois terços de suas vidas estudando uma única molécula que, um dia, depois de 20 ou 30 anos de pesquisas, resultará em uma droga que proporcionará mais conforto aos pacientes. São heróis. São homens que salvam vidas.

Essas pesquisas são criteriosas e se dão, quase todas, no eixo Europa Ocidental-Estados Unidos. Depois de algumas fases, quando os remédios finalmente são testados em seres humanos, é porque estão em fase adiantadíssima, prestes à aprovação. Ser, digamos, "cobaia" de uma dessas pesquisas é uma bênção, porque o paciente terá acesso ao que há de mais avançado na ciência e será tratado mediante um protocolo empregado nos centros mais modernos do mundo. O desempregado que mora nos confins de Alvorada e que leva duas horas de ônibus para chegar a um hospital de Porto Alegre será tratado com o mesmo desvelo que o empresário japonês multimilionário que está pagando em dólares por um tratamento nos Estados Unidos.

Por isso, me inscrevi num desses protocolos, que estava em desenvolvimento no Hospital de Caridade de Ijuí. Consistia numa comparação: uma droga novíssima versus outra já disponível no mercado. Havia 50% de chances de eu pegar a droga nova, dependia de uma espécie de sorteio, uma randomização feita por computador. Era uma ou outra. E eu peguei... a outra. A droga mais antiga. Quer dizer, "perdi". Mesmo assim, continuei no protocolo, usei a droga à disposição (que, aliás, é caríssima) e, por um tempo, deu certo. Participar daquela pesquisa foi muito bom para mim. Agora, pretendo participar de outra. E, aí, quem sabe, tenho mais sorte. Quem sabe me torno uma feliz cobaia desses paladinos da ciência.

Fonte: Zero Hora - Notícias

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